Toda cidade tem uma praça.
Lajeado não mais é a “minha cidade”.
Portanto, essa praça também não é mais “a minha praça”.
Mas já foi.
Quando a gente não se reconhece mais nas recordações – como disse uma certa psicóloga argentina Sara Paín – perdemos os instintos. Inclusive os de afeto. Já desconfiava, mas a certeza veio quando li um artigo na ZH assinado pela Esther Grossi nesse início de fevereiro.
Essa cidade tem 46 praças. Parece mentira? Os dados são da assessoria de comunicação da prefeitura. Já imaginei: "Lajeado, a cidade das praças".
Desculpe a parrésia: várias praças estão em estado lamentável. Não atraem nem os desiludidos da vida, que dirá as crianças e suas fantasias. A Praça Moreira César - quem será o figurão? - é reduto dos crakeiros. A da matriz, dos bebuns e apertados: tem um mictório por ali.
A pracinha da imagem acima é a do chafariz. É uma das pouca praças atraentes: reúne chinas e trabalhadores. Na sua vizinhança, a Associação Comercial e Industrial da cidade. E um cabaré, agora fechado. Disputando importância, o busto em bronze do Getulio Vargas com um naco da carta-testamento. Mas, a paternidade coube a Gaspar Silveira Martins.
Minha ex-cidade é letradura mesmo: homenageou um monarquista! Mais tarde, maragato, federalista ou seja lá o que isso significa. O cara nasceu em Bagé e morreu em Montevidéu. Passou a trote largo daqui. Por que cargas d’água ganhou praça em Lajeado, caraca?
Coisas da colônia mesmo.